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Ensaios - Janelas I



Ver e não enxergar, olhar e não perceber. Assim fazemos muitas vezes...


As vezes perdemos paisagens, sol nascente, pôr-do-sol, mata em movimento por causa do vento, animais e crianças correndo. Justamente por não dar valor às pequenas coisas que de fato importam. E assim elas passam como num instante mágico. Ao piscar os olhos a imagem já foi, o que se viu, ou acha que se viu já é outra coisa e vai mudar novamente no próximo piscar de olhos.

Por que numa viagem mais longa, ao invés de prestarmos atenção ao que vemos simplesmente dormimos? Certamente existe alguma explicação científica para isso, talvez o balanço do veículo em movimento, talvez o momento de relaxamento. Não sei ao certo e nem pretendo questionar isso. O que de fato importa é termos consciência de que temos janelas em nossas vidas. Não falo somente daquelas que temos em nossas casas, em nosso trabalhos, mas temos as janelas dos carros, dos aviões, dos ônibus, dos navios e a janela da alma, aquela que não somente olha e vê, mas enxerga e percebe.

Através de nossas janelas, podemos perceber o mundo ao nosso redor. Quantas vezes flagrou a si próprio olhando por uma dessas janelas com um olhar curioso que buscam além do que se vê?

Esses dias pude perceber o mundo que me cerca. Pude perceber como meu olhar mudou perante a antiga janela do quarto que eu tinha na casa dos meus pais. De lá eu olhava o mundo e imaginava as muitas possibilidades longe dali. Os diferentes lugares que gostaria de estar. Agora percebo que ali não é mais a janela onde olho pro mundo com o mesmo olhar curioso. Ali é a janela do mundo que deixei, o mundo onde me criei. Aquela é a janela onde comecei a construir minha história. Mas não foi a janela que mudou, fui eu, foi minha percepção de mundo. E não foi só dessa janela que percebi a mudança.

A janela do carro também está diferente. A paisagem da estrada para a casa da minha avó também mudou. As casas estão modificadas, as crianças cresceram e outras crianças vieram. Árvores foram derrubadas ou caíram e permitiram o avanço da estrada. O meu olhar mudou, e com ele o mundo.

Da janela onde vivo hoje vejo luzes, muitas luzes, vejo prédios, muitos prédios, vejo pessoas que passam apressadas durante o dia e a lua majestosa e calma, que durante a noite reflete bem em cima da minha cama. É dessa janela que hoje percebo com mais frequência o mundo, um mundo em constante transformação, assim como eu...

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